Dentre as diversas personalidades que habitam em mim, costumo classificá-las em dois grupos, ao mesmo tempo opostos e complementares. De um lado o clássico, do outro a contracultura. De um lado o tradicional, do outro o underground. De um lado o romântico, do outro o grotesco. Para retratar essa ambiguidade que me constrói e desconstrói, abordei dois temas que me atraem como movimento: o pós-impressionismo e o punk. 

Procurei traduzir as pinceladas do pós-impressionismo no metal através da transformação do latão ao derretê-lo e resfriá-lo na água logo em seguida.

De certa forma, o pós-impressionismo também é transgressor, uma ruptura para sua época que não seguiu regras tão definidas e universais para todos os artistas como ocorreu com o impressionismo.

Quanto ao punk, sua irreverência foi explorada nas formas em que as peças foram combinadas e na estética das correntes, criando uma máscara que ao invés de esconder algo, revela minha verdadeira personalidade, dramática, exagerada, inesperada e rebelde, sobrepondo a timidez através da joia-arte.

 

Os óculos que compõe essa máscara também são usados em partes do corpo em que não deveria estar, fugindo de certas regras implícitas e do padrão de que parte do corpo um acessório deve habitar, seguindo a espontaneidade da vontade de usá-lo onde bem entender. A boca está coberta, mas os olhos permanecem de fora: não são necessárias palavras quando os olhos revelam o que há na alma.

 

O processo é tão valorizado quanto o resultado final. As peças foram tomando forma a partir do que foi gerado no resfriamento do latão derretido, uma técnica que permite explorar o inesperado, tomar novos caminhos em meio a criação que não haviam sido pré-estabelecidos, entendendo todas as maneiras em que o material pode se comportar e ser trabalhado, reinventando o seu sentido.

 

O exagero faz parte da irreverência, o excesso de elementos revela o encontro das diversas personalidades que se combinam em mim e o meu gosto pela confusão estética de uma peça, contrastando com a onda de minimalismo que vem predominando em roupas, arte e acessórios. Adorno meu corpo para me conectar com quem sou e com a forma que quero ser percebida. Para revelar minhas personalidades, me expressar e me tornar uma obra de arte humana.